34 anos e não sei o mínimo sobre dinheiro
como a maioria das pessoas, não aprendi nada sobre finanças na escola e nem em casa. vivi muitos anos com pouco dinheiro e, entre primo pobre e primo rico, o Primo Trauma foi meu professor.
passei por períodos em que faltava o básico, enfrentei privação e restrição alimentar… algumas vezes por falta de entrada de dinheiro e outras por má organização e planejamento. em momentos de escassez, a criatividade foi minha aliada. ser filha da minha minha mãe me salvou muito nesses momentos. aprendi desde sempre a fazer a comida render, a criar pratos diferentes com pouco.
passada a era dos momentos complicados, casa e comida passou a ser minha prioridade. a ansiedade de ver a despensa esvaziando virou um mega gatilho e uma coisa que precisava evitar a qualquer custo, então estocar comida passou a ser meu mantra. qualquer trocado que sobrasse, eu revertia em alimento. nunca poupei! eu gastava tudo o que tinha, desde que o teto estivesse pago e geladeira cheia por mais um mês.
com a corrida dos últimos anos, cheguei em um salário que hoje me deixa em uma situação muito mais confortável. não posso dizer que estou satisfeita com ele, mas um choque de realidade é bom: a calculadora nexo me deu uma noção do meu salário diante da realidade brasileira e… verdades difíceis de digerir, né?
se eu acho que posso me dar ao luxo de permanecer confortável assim? não acho. refletir sobre estabilidade sendo meio paranóica e meio mussarela, me levou à conclusão de que ela não existe. o que existe é segurança, e é isso que minha eterna ansiedade de perder tudo a qualquer momento pede.
se eu ganho 89% mais do que as pessoas do meu estado, e pelo menos 4x mais do que a nadya de 4 anos atrás, por que eu tô sempre fodida sem 1 puto no bolso? não para a minha surpresa, o lugar onde mais perdi a mão foi com a alimentação.
a grana que eu gastei com delivery e mercado da pandemia para cá, não tá escrita. gastei muito dinheiro comprando pra mim tudo que eu tinha vontade e que fosse sem trabalho nenhum. eu, verdadeiramente, dei um descanso pra minha cabeça de pensar criativamente na cozinha, optando pela conveniência.
o máximo de planejamento que fiz foi: “hoje peço marmitex no almoço, pizza na janta. amanhã eu peço uma massa diferente no almoço, um lanche na janta. depois de amanhã eu quero um café da manhã bem especial, almoçar fora naquele restaurante que conheci, e jantar no shopping. no fim de semana eu faço uma boa compra no mercado de coisas bem especiais que estou com vontade”.
outra coisa, é que eu comecei a comprar desenfreadamente tudo o que quis no passado e não pude ter. na minha infância, eu não tinha nada escolhido por mim. eu vivia de roupa ganhada. perfume, maquiagem e etc? o que ganhava dos parentes no aniversário tinha que durar até o próximo ano.
de repente, poder comprar meus cosméticos, minhas roupas, meus acessórios... era uma forma de realizar desejos reprimidos. livros, papelaria e decorações para a casa. cada dia, um pacote novo chegava. eu desci saltitante ladeira abaixo realizando todos meus caprichos.
ganhar mais dinheiro traz desafios inesperados. conforme você se acostuma a ter mais dinheiro disponível, seu padrão de gastos também cresce. com mais dinheiro, as expectativas sobre o que é “normal” aumentam. eu, que achava caro pagar R$ 50 reais numa pizza portuguesa no Arthur Alvim, não obstante, me vi pagando R$ 150 em uma pizza napoletana em Perdizes.
você começar a achar que precisa de produtos mais caros e de todo o equipamento de alta qualidade para seus hobbies… aqueles que você não tem tempo e nem energia para executar.
cheguei a um ponto de comprar sem propósito, só por bater o olho e querer? opa… comprei tantas coisas por impulso que muitas se tornaram tralha. eu não me culpo por esses gastos. eu acho que precisei disso. não vou perder tempo chorando o dinheiro que perdi, se ele curou algumas coisas e se eu fui feliz por conseguir me mimar.
um novo começo: eu preciso de disciplina agora
estou em um momento de frear a versão de mim que se mimou e cuidar de quem, no futuro, precisará de conforto. o medo de perder tudo me assombra, e só vou me livrar dessa ansiedade quando tiver algo guardado. isso também é autocuidado.
meu primeiro passo foi entender meu dinheiro: quanto entra e quanto sai. para onde vai, em que áreas da minha vida coloco ele. ver para onde meu dinheiro estava indo foi um choque, mas necessário.
não que eu não soubesse que tinha um problema acontecendo ali, tá? por, sei lá quanto tempo, eu descaralhei bem consciente!
caía o salário, e eu vivia. depois ficava com medo de abrir o aplicativo do banco para ver quanto tinha. rezava para o cartão passar. no dia de pagar a fatura, eu fazia empréstimo para pagar. chegava o dia de pagar o empréstimo, eu jogava a parcela no cartão e adiava mais um mês. eu sou uma malabarista de boletos bem talentosa.
encarei que esse é um problema comportamental, e como todos, preciso trabalhar nas emoções que estão por trás disso.
anotar tudo o que gasto tem me ajudado muito!
como ainda estou tentando entender outros gatilhos das compras por impulso, é uma estratégia que tem funcionado. já entendi que às vezes compro coisas por tédio, por exemplo. ⊂(◉‿◉)つ
cozinhar para a semana tem ajudado tanto na alimentação quanto nas finanças. e também no delivery! tenho refletido muito sobre prazeres que temos sem nenhum esforço.
ainda estou no vermelho, mas menos do que no mês passado. será um processo sair das dívidas, fechar o mês no verde e começar a poupar para a reserva de emergência e o futuro.
agora, o dilema da reserva de emergência
estudando o beabá de finanças, vi que a reserva ideal é de 6 meses das despesas (não o salário).
exemplo: se minhas despesas básicas são 4 mil reais por mês, preciso juntar 24 mil reais.
com MUITO esforço, se eu poupar 500 reais por mês, levaria 4 anos para alcançar essa meta.
mas, em 4 anos, minhas despesas provavelmente serão maiores, certo? eu nunca vou conseguir ter minha reserva de emergência? como sair desse ciclo?
o capitalismo é frustrante demais, é uma máquina de moer gente mesmo.
se eu preciso de uma reserva para diminuir minha ansiedade e me dar mais segurança, eu vou precisar aumentar minha ansiedade trabalhando mais fazendo freelas, como se eu já não trabalhasse o suficiente, para ver se eu consigo isso mais rápido.
isso que eu nem comecei a falar de futuro. investimento, aposentadoria, etc.
não tem nada muito otimista para encerrar. é isso, vamo tentando.