diga-me com quem andas e te direi quem és?


vivo em uma constante autoperseguição para descobrir quem eu sou. talvez motivada pelas influências que tive de pessoas me moldando à revelia, eu tenha tornado esse o meu hiperfoco: saber se estou sendo eu ou performando aquilo que me foi ensinado.

uma vez, uma amiga me disse que somos a média das cinco pessoas com quem convivemos. essa é uma teoria do escritor americano Jim Rohn*, que diz que o meio em que vivemos inevitavelmente influencia nossas ações, pensamentos e sentimentos, refletindo em todas as áreas da vida pessoal e profissional.

em tese, ele diz que se cercar de pessoas saudáveis, inteligentes, desafiadoras e interessantes provavelmente o tornará como as pessoas que você admira. e o oposto também é verdadeiro: você deve se afastar de pessoas negativas e que não estejam alinhadas com o seu propósito e valores.



*Jim Rohn foi um empreendedor, autor e palestrante motivacional norte-americano. apresentou seminários ao redor do mundo por mais de quarenta anos e escreveu 25 obras de autoria própria. isso é tudo o que eu sei sobre ele e não pretendo me aprofundar, mas talvez o principal insight que ele desperta em mim é que a figura de homem branco estadunidense de terno azul que fala sobre empreendedorismo imediatamente me causa desconfiança.

mas vamos supor que essa teoria tenha algum embasamento para além de um mote de impacto criado por um boomer palestrante motivacional.

eu entendo a ideia de nos provocar a pensar a respeito de quem escolhemos para nossa companhia nas diversas esferas da vida. é óbvio que boas companhias podem nos inspirar e nos ajudar a extrair o nosso melhor, mas não acredito que as pessoas com as quais convivemos por mais tempo, em maior proximidade, determinam como somos. até porque eu prezo bastante por manter o meu círculo de pessoas próximas bem diverso.

as pessoas saudáveis, inteligentes, desafiadoras e interessantes de Jim Rohn Nadya

cada pessoa tem suas próprias preferências quando se trata de relacionamentos e amizades. existem características que eu valorizo profundamente em outras pessoas, que não só tornam a convivência mais agradável, mas também inspiram e enriquecem a minha vida. procuro, conscientemente, me cercar dessas pessoas.

então eu me propus aqui a elencá-las a partir das pessoas que mais convivo e admiro, e observar se eu tô nessa média.

👉 pessoas honestas a honestidade é uma das primeiras qualidades que me atrai. pessoas honestas tendem a ser autênticas. sendo verdadeiras consigo mesmas, elas têm a coragem de mostrar quem realmente são, o que as torna confiáveis. elas são vulneráveis, capazes de expressar seus sentimentos e desejos reais, criando um vínculo de confiança e respeito mútuo.

👉 pessoas emocionadas admiro pessoas emocionadas. tenho dificuldade em me relacionar com pessoas difíceis de ler, distantes ou indiferentes. prefiro aquelas que estão dispostas a se apaixonar, se arriscar e experimentar a vida intensamente. essas pessoas trazem energia e entusiasmo ao meu redor, tornando cada momento mais vibrante.

👉 pessoas artísticas a sensibilidade artística também é uma qualidade que valorizo. aprecio pessoas que veem o mundo de forma profunda e emocionante, capazes de perceber a beleza e os detalhes em tudo. elas tendem a ser criativas, expressivas e emocionais, o que as torna fascinantes. a sensibilidade artística permite uma conexão mais profunda com o mundo e com os outros.

👉 pessoas não-conservadoras pessoas progressistas também são muito importantes para mim. admiro aqueles que estão dispostos a questionar o status quo e pensar fora da caixa. essas pessoas trazem novas perspectivas, são curiosas, flexíveis e abertas a novas ideias de progresso e evolução. a mentalidade progressista é essencial para o crescimento pessoal e social.

👉 pessoas “copo meio cheio” valorizo pessoas com uma visão otimista, mas realista. elas reconhecem as dificuldades da vida, mas veem nelas uma oportunidade para crescer e aprender. transmitem um senso de esperança contagiante e são capazes de apoiar e dar força nos momentos de dificuldade, sem perder o contato com a realidade.

👉 pessoas desenroladas gosto de pessoas simples, de atmosfera casual e descontraída. elas não são burocráticas, excessivamente formais, presunçosas ou muito sérias. não se preocupam com títulos formais, hierarquia ou status social. são fáceis de conversar e têm facilidade em se conectar com outras pessoas.

👉 pessoas que se importam com outras pessoas pessoas que se importam com outras pessoas também têm um lugar especial no meu coração. aprecio aquelas com um senso de justiça social, empáticas e responsáveis com o social e a comunidade. elas são politicamente conscientes ou ativas, celebram a diversidade e reconhecem que as diferenças devem ser abraçadas, não evitadas ou corrigidas.

👉 pessoas sencientes respeito profundamente pessoas que entendem os limites, espaço e conforto dos outros. elas não relativizam situações ou decisões conforme sua conveniência e possuem um compasso moral e emocional bem calibrado. têm uma percepção consciente do que acontece ao seu redor e um entendimento de como os sentimentos afetam a vida humana.

👉 pessoas que gostam de animais aprecio pessoas que reconhecem o valor da vida e o direito de todos os seres vivos a uma vida cheia de carinho. o amor pelos animais reflete uma compaixão e uma empatia que se estendem a todas as formas de vida.

👉 pessoas com senso de humor adoro pessoas que conseguem encontrar algo engraçado até nas situações mais desafiadoras. a capacidade de perceber e apreciar o humor torna a vida mais leve e alegre, ajudando a superar os momentos difíceis com um sorriso.

👉 pessoas magnânimas finalmente, admiro pessoas que não são mesquinhas ou egoístas. além do sentido material, elas são generosas, justas, gentis e amplamente bondosas. compartilham tempo, carinho, atenção e suporte, tornando o mundo ao seu redor um lugar melhor.

ok, estou dentro desse espectro. no geral, consigo identificar coisas parecidas comigo em todas essas características, mas não a ponto de validar a teoria do Jim Rohn.

a influência das pessoas em nós é forte e, em muitos sentidos, imperceptível, mas chega a ser um pouco ingênuo acreditar que se a gente se cercar de pessoas com atitudes positivas, teremos uma atitude positiva. ainda que o fator da influência fosse dominante, não dá para assumir que ele é determinante. isso é jogar a responsabilidade de ser do jeito que é nos outros.

não dá para ignorar, também, que pessoas negativas podem ser difíceis de evitar. pode ser difícil cortar pessoas que afetam sua vida de forma não saudável do seu círculo… a gente é obrigado a conviver com várias pessoas que não escolhemos. essas pessoas me condenam a ser a média delas?

e mais: em aspectos mais abstratos, às vezes a gente é a influência negativa de alguém. nesse caso, uma pessoa autodestrutiva ou tóxica, cercada de pessoas boas, está mais propensa a influenciá-las para pior, ou a melhorar?

eu odeio em ti aquilo que odeio em mim

é certo afirmar que a gente tende a desgostar de pessoas que, no fundo, têm características parecidas com as que não gostamos em nós mesmos? segundo Jung, nossos aspectos menos amigáveis e negativos são repelidos por nós pelo subconsciente, e nos sentimos mais confortáveis ignorando-os do que admitindo que possuímos esses traços.

quando não reconhecemos nossos lados sombrios, eles acabam sendo projetados no mundo ao nosso redor, e nós acabamos tendo repulsa dessas características em outras pessoas. talvez eu precise elencar também o tipo de pessoa que eu não gosto, para entender quem eu sou.

por enquanto, permaneço com o pensamento de que a única pessoa com controle sobre quem você é, e de quem você quer ser, é você mesmo. as pessoas à sua volta podem ter influência, mas, no fim das contas, você está na cadeira do motorista.

talvez você dirija mal e o Jim Rohn esteja te fazendo pensar que a culpa é do trânsito.