dive, darling.

 


querido diário, às vezes preciso de um tempo de mim. 

o último post teve uma energia tão pesada, que eu não consegui voltar aqui para atualizar esse espaço.
eu tô bem... de verdade, eu tô legal. passou... até com a pessoa que me engatilhou, já passou. 

não consigo me ater muito a esse sentimento negativo, não consigo me vingar direito, sabotar, traumatizar de volta. eu espreguejo na hora da raiva e tiro de mim. 

eu tenho vários updates para dar por aqui, mas não quero jogar tudo em um post só. no futuro, quero ler as coisas que escrevi, então vou fazer posts por cada tema, para aprofundar e separar os assuntos melhor. 

hoje quero falar sobre um novo mergulho. 


ontem eu fui na hidroginástica pela primeira vez depois de muito tempo… desde o pré-pandemia.

esse movimento começou com o incentivo do marido da minha chefe, que é educador físico e foi muito generoso em dispor do tempo e do conhecimento dele para me ajudar a encontrar um caminho para sair do sedentarismo. uma das coisas mais importantes que ele me disse foi: "faça o que você gosta. se o que você gosta é água, vá para a água.". parece algo óbvio, mas, por incrível que pareça, foi necessário ouvir isso de um profissional para que eu normalizasse a ideia.

o mais curioso é que essa mesma sensação me ocorreu em outra situação: quando percebi que eu deveria ler o que gosto, e não o que a sociedade considera superior. se eu gosto de romances, por que forçar a leitura de clássicos só porque "é o que se espera de um verdadeiro leitor"

a influência da opinião alheia nas nossas escolhas, às vezes, me faz esquecer que tenho livre-arbítrio. eu posso fazer o que é prazeroso para mim, e uma vez que me apropriei disso, tal como a leitura, decidi voltar para a água junto às senhorinhas. 

comprei um macaquinho, um roupão, uma toalha nova e assinei o plano. só faltou comprar a coragem de me expor.

voltar a me exercitar parecia uma ideia simples, mas a verdade é que sair de casa para me colocar em um ambiente esportivo foi um desafio muito maior do que eu esperava.

eu sempre tenho receio de me expor em lugares onde o corpo é uma vitrine, onde a ideia de performance física parece ser o foco. por mais que hidroginástica não comunique desempenho e cultura ao corpo, o ambiente de academia, sim.

enfim, a hipocrisia: as pessoas esperam que corpos gordos se movimentem e cuidem da saúde, mas o ambiente que deveria ser de acolhimento muitas vezes se torna hostil.

algo em mim sempre trava quando penso em ambientes esportivos. eu tenho um verdadeiro sentimento de inadequação, a sensação de que não pertenço a esses espaços, que o meu corpo não deveria estar ali, é uma sombra constante. 

a ansiedade tomou conta antes mesmo de eu chegar lá, e o medo do julgamento alheio fazia meu coração disparar. fiquei isso aqui de desistir… mas saí de casa e fui o caminho lutando contra essas emoções, lembrando que eu tinha o direito de estar ali tanto quanto qualquer outra pessoa. 

a realidade é um alívio. foi mais tranquilo do que todos os cenários que a minha mente hipervigilante construiu, ou tentou prever. fui bem recebida, mas é claro que eu não ia sair dali sem uma nova paranóia.

a aula foi muito gostosa a hidroginástica foi cansativa, e por um momento eu questionei o quão "leve" esse exercício realmente é. ninguém nunca me disse diretamente que hidroginástica não é suficiente, mas o conjunto de mensagens que recebemos desse universo faz parecer que, se você não está no topo da cadeia esportiva, não está fazendo o suficiente. talvez por eu trabalhar em uma empresa de esporte, e contar histórias de grandes feitos, tipo uma pessoa completar as 6 World Majors Marathons, esse sentimento me pegue mais e me faça olhar para a hidroginástica de maneira ingênua e até meio boba.

mas e se eu for meio ingênua e meio boba mesmo?

da mesma forma que, na leitura, há uma hierarquização implícita, onde os leitores de clássicos são vistos como os verdadeiros "fãs de literatura," enquanto o resto é, de certa forma, menosprezado, sabe?

essa cultura de hierarquização não se limita ao esporte ou à literatura; ela permeia diversos aspectos da vida. reality show é futilidade, arte de verdade é realismo, música boa tem complexidade harmônica, gastronomia é cozinha francesa, etc.

por que damos tanto valor à opinião dos outros? talvez porque, desde cedo, somos ensinados a buscar aceitação e validação externa? o tempo todo sendo julgados por nossas escolhas, como se nossas paixões fossem menos válidas, fazendo com que a gente precise de alguém para nos lembrar que temos o direito de escolher o que nos faz bem. 

quando eu penso que tô avançando em bancar minha autenticidade, a vida me revela que eu ainda luto para me sentir livre nas minhas escolhas. 

o processo de me colocar em situações novas, onde o desconforto é garantido, não é fácil. mas é necessário. cada vez que eu enfrento essa insegurança, estou dando um passo em direção à pessoa ativa e saudável que quero ser.

sei que ainda terei momentos de dúvida, de medo, mas também sei que sou digna de frequentar qualquer espaço, de cuidar de mim da maneira que eu escolher. 

a normalização das nossas preferências pessoais é essencial. não há nada de errado em escolher hidroginástica em vez de triatlon. o que importa é encontrar prazer no que fazemos, sem se deixar levar pelas expectativas dos outros.

a vida é cheia de paradoxos, né? tô aprendendo a navegar por eles com mais coragem e menos autocrítica. acho que a chave é mudar a forma como me vejo. quando me questionar, pensar em mim mesma como alguém capaz e que pode fazer o que quiser, não como alguém que tem que ser aceita. 

em vez de me perguntar se os outros aprovariam, perguntar a mim mesma se essa é uma decisão que me faz eu. que me faz minha.